De acordo com o IEP (Instituto de Economia e Paz) e diversos governos ao redor do mundo, o Iraque é um dos países mais perigosos do mundo. Até onde isso é verdade?

Minha ida ao Iraque, em outubro de 2023, não foi minha primeira viagem ao Oriente Médio. Confesso que já estava preparado para a quantidade de comentários recheados de preconceitos que ouviria a cada vez que contasse a alguém que aquele seria meu próximo destino.
De maneira sucinta, com base na minha experiência pessoal, a resposta para essa pergunta é: Não, o Iraque não é um país perigoso. Mas afinal, de onde vem tantos estereótipos que o associam a violência, guerras, e terrorismo?
Guerras e conflitos no Iraque
Nos últimos 50 anos o Iraque foi palco de diversos conflitos que arrastaram o país para guerras, internas e externas, que desestabilizaram as estruturas políticas e sociais do Estado iraquiano, e comprometeram a qualidade de vida da população. Entre as guerras mais conhecidas envolvendo o Iraque, podemos citar: a Guerra Irã x Iraque, a Guerra do Golfo, a ocupação do EI, e talvez a mais conhecida delas, a Guerra do Iraque, que teve início devido a invasão estadunidense, que ocorreu em março de 2003, e durou até 2011.
O conflito entre o país do Oriente Médio e os Estados Unidos da América aconteceu devido a convicção estadunidense de que o Iraque abrigava armas de destruição em massa, que representavam uma ameaça ao próprio país norte-americano, além da intenção de depor o então presidente do país, Saddam Hussein. Tais armas nunca foram encontradas, nem pelos estadunidenses, nem por fiscais de agências internacionais ligadas à ONU, Saddam foi deposto, julgado, e executado. A guerra tomou rumos voltados à exploração das fontes de petróleo iraquianas, e a população iraquiana foi deixada à mercê de bombardeios yankees, milícias estrangeiras, sequestros e estupros de crianças da parte de soldados americanos, e uma regressão exponencial da qualidade de vida no Iraque.
Horrível, né? Como o resto do mundo poderia ser conivente com tantas atrocidades? Como eu considero, mesmo assim, o Iraque um país seguro?
Apesar de levar nas costas sua atual fama, Baghdad, capital do Iraque, já foi conhecida como uma das cidades mais belas e almejadas do mundo. O país é a origem de algumas das mentes mais brilhantes e algumas das maiores invenções da história da humanidade, por exemplo, a cirurgia, o hospital, a universidade, importantes avanços no campo da astronomia, e até mesmo a escrita.
Para angariar apoio e conivência na decisão de invadir o Iraque, o Ocidente fez uso de uma de suas armas mais letais: a propaganda.


O que é a propaganda?
Propaganda é um modo específico sistemático de persuadir visando influenciar com fins ideológicos, políticos as emoções, atitudes, opiniões ou ações do público alvo.
Moldar a imagem de um Iraque perigoso, selvagem, e dominado pela barbárie, que abrigava supostas armas de destruição em massa, era a justificativa perfeita para impor um embargo econômico que provocariam um isolamento global, e invadir o país com o pretexto de “restaurar a democracia”, enquanto explora jazidas de petróleo alheias.
O “nós” contra o “eles”
Para além da invasão no Iraque, moldar a imagem de povos do Oriente Médio como selvagens, desprovidos de direitos, e acima de tudo, na necessidade de serem salvos por uma força ‘democrática’, foram os pilares para a edificação do etnocentrismo ocidental no começo do século XXI.
Desenhar uma linha que divida o ‘nós’ do ‘deles’ é a maneira escolhida pelo Ocidente de conseguir apoio, se não conformismo e indiferença, para a execução de planos que envolvem a predominância dos seus próprios interesses imperialistas em regiões do mundo, no caso o Oriente Médio, as populações e governos locais queiram ou não.
Enquanto o Iraque tenta se desvencilhar das marcas do seu conflito mais recente, que teve fim em meados de 2017 com a expulsão do grupo terrorista Estado Islâmico do seu território, boa parte do resto do mundo segue preso a paradigmas influenciados por veículos midiáticos de propaganda ocidental que se empenha para, a qualquer custo, evitar a (re)integração de nações, como o Iraque, à comunidade internacional.


Minha experiência pessoal
Apesar de já ter viajado muito a essa parte do mundo ao longo dos últimos anos, minhas expectativas sobre o Iraque eram quase inexistentes, tanto por falta de referências que já tenham de fato visitado o país, quanto pela ciência de que existe uma tendência generalizada a demonizar países árabes. Ouvi de tudo, até vindo de pessoas nascidas em outros países do próprio Oriente Médio, que diziam que eu estava me metendo em um país perigoso, sem estrutura, e que eu dependeria da minha própria sorte.
Eu não sei onde fica esse país que as pessoas tanto pintam, mas o Iraque que eu tive a oportunidade de conhecer é um país seguro, de povo hospitaleiro, rico em patrimônio histórico, e culturas diferentes de tudo que eu já vi antes. Definitivamente uma jóia escondida (por enquanto) no coração do Oriente Médio. Muito além de apenas um destino, o Iraque também é lar de algumas das histórias mais impressionantes que eu já escutei na minha vida. Um país que comeu o pão que o diabo amassou, e que mesmo assim reage coletivamente, na tentativa de se livrar de um passado obscuro, e avançar na direção de um futuro de paz e prosperidade.
Para mais detalhes, escritos e visuais, sobre a viagem, assistam os ‘destaques’ referentes ao Iraque no meu perfil no Instagram @cafedeaeroporto