AONDE NASCEM
os contadores de histórias
Em uma sociedade onde muitas vidas vem com roteiros de brinde (a minha inclusa), saltei pra fora da esteira onde fui ensinado a viver e parti pro desconhecido ainda muito jovem, em viagens que logo foram se estendendo, até tomarem forma de uma volta ao mundo, que dura há mais de 4 anos.
Assim como minha trajetória, minha escrita nunca foi obediente – Me tornei escritor antes de aprender a ser um. Meus cadernos de viagem, onde relato com cuidado meus registros e impressões, sempre foram meus maiores companheiros de estrada. Na falta de linearidade e em um excesso de transparência, minhas vivências correm pelas páginas enquanto houver linhas e rodapés em branco.
A escrita me ensinou a falar e a dar a atenção que o ‘despercebido’ merece, já a viagem me mostrou um mundo mais gentil do que acreditei ser possível antes de pôr os pés pra fora de casa. Do lado de fora do meu ninho, fui guiado pela minha curiosidade e apresentado a uma infinidade de possibilidades, histórias e jornadas pra dentro e pra fora.
Nasci no Tocantins, mas sempre tive a cabeça em outros lugares. Desde muito pequeno era fascinado por fotos reveladas, mapas e livros que falavam de aventuras em lugares distantes, onde poucas pessoas chegavam. Fui uma criança que questionava tudo, queria entender o porquê das coisas serem como são. Minha overdose de curiosidade e questionamentos fez minha fama de desobediente e teimoso.
Minha família, mesmo que tradicional de certas maneiras e cética em relação ao meu futuro como viajante, sem saber, foi a responsável pela germinação da minha sede de ir tão longe quanto os aventureiros dos livros que eu devorava.
Cresci sob o mesmo teto que contadores de histórias natos. Mesmo com tantas diferenças entre nós, foram os fins de tarde tomando café e ouvindo, talvez pela décima vez (mas como se fosse a primeira) as histórias dos meus avós, que alimentei a urgência de não viver sem uma boa história para contar.
Nem nos meus sonhos mais criativos eu imaginaria que, do momento que eu me candidatei pra fazer um intercâmbio cultural de 1 ano com uma ONG, aos 17 anos, até 5 anos depois, eu teria vivenciado a quantidade de experiências que vivi ou conhecido a quantidade de pessoas, lares e culturas que conheci.
Tive acesso a boa educação e comida na mesa, mas não demorei a perceber que, por mais que extremamente valiosos, esses privilégios não garantiam recursos financeiros para que eu pudesse custear minhas andanças mundo afora.
Não tem segredo, o jeito é trampar. Trabalhei como recepcionista, faxineiro, bartender, professor, intérprete, tradutor e já fiz música na rua.
Aprendi muito com tudo que fiz, mas mesmo que a escrita sempre tenha estado presente, foi difícil assumir o todo que ela representa pra mim e para parte do que sou apaixonado em fazer.
Precisei de dezenas de países, centenas de histórias e incontáveis memórias colecionadas e escorridas pro papel pra que eu pudesse dizer em voz alta pela primeira vez